sábado, 25 de junho de 2011

Sempre que alguém...

Sempre que alguém chega à nossa vida nunca vem sozinho. Ele traz o seu horizonte de sentido. Pessoas, coisas, valores, idéias. Traz o alicerce que o faz ser o que é.
O exemplo é simples e nos ajuda a entender. É impossível comprar uma casa só com as paredes e acabamentos. Não é possível transplantar uma casa. Se quiser a casa, terá de ver o local em que ela está construída. Comprar uma casa pronta exige uma atenção muito especial. É preciso que estejamos atentos quanto à sua localização: vizinhança, alicerces, paredes, acabamentos. Para qualquer mudança que queiramos fazer, teremos que considerar a sua estrutura fundamental.
Casas e apartamentos são construídos a partir de alicerces, paredes e vigas de concreto. As paredes podem até sofrer alterações, mas as vigas de concreto terão que ser respeitadas. Retirar vigas é prejudicar a sustentação da construção. Paredes até poderão ser destruídas, mudadas de lugar, mas a estrutura não poderá sofrer mudanças.
O processo de feitura da pessoa humana é semelhante às construções. Desde nossa vinda ao mundo, recebemos um formato, uma estrutura. Amar alguém consiste em observar onde estão as vigas de sustentação, para que não corramos o risco de derrubar o que a faz permanecer de pé. O interessante é que a construção poderá ser reformada, melhorada, sobretudo nos acabamentos. O amor é criativo, dribla os limites, supera expectativas.
Voltamos a dizer: pessoas são semelhantes a construções. Possuem históricos que necessitam ser respeitados. Não acreditamos que alguém se interesse por uma propriedade, ou dela queira aproximar-se, para torná-la pior. Se alguém precisa comprar uma casa, já o fará pensando nas melhorias que poderiam ser feitas, mas regredir nunca.
Se nossas relações com as coisas já são assim, cheias de cuidados, muito mais deveriam ser com as pessoas. Nossos encontros, ainda que rápidos e transitórios, deveriam ser motivados pelo desejo de fazer crescer, melhorar, avançar aqueles que encontramos, e a nós mesmos.
É assim que podemos intensificar o nosso processo de "ser pessoa". À medida que motivamos e somos motivados para o autoconhecimento, tornamo-nos proprietários do que somos e naturalmente colocamo-nos à disposição dos outros.
Trecho do livro "Quem me roubou de mim?" de Fábio de Melo (editora Canção Nova).