segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O gambá, a gaivota e o pinguim - Parte III

Parte III - O Pinguim


Gambás, gaivotas... Eu já estava com medo de bichos que iniciam com a letra G...

Foi então que uma colega me ofereceu ajuda. Perguntou se eu não queria fazer o trabalho com ela.

- Mas você já tem o bicho? - perguntei.

- Sim eu tenho um pinguim.

- Um pinguim? Mas como?

Então ela me explicou como havia conseguido o bichinho. Eis a história.

Uma outra colega estava fazendo novamente a disciplina de fisiologia animal, pois havia sido reprovada no semestre anterior. Esta colega estava na praia, nas férias de verão, e teve a sorte de encontrar um pinguim morto à beira mar. Isso aconteçe porque as vezes os pinguins perdem a rota e nadam na direção errada, vindo parar aqui nas nossas praias do sul.

Quando a colega viu o pinguim lembrou do trabalho que teria de fazer. Não teve dúvidas: recolheu o bichinho, levou para casa e congelou no freezer...

E lá estava ela no primeiro dia de aula,tranquila em relação ao bicho. Foi então que o professor deu a seguinte notícia:

- E para aqueles que já fizeram o trabalho prático no semestre passado, vou exigir somente um teórico.

Putz, pensou a moça. E agora o que eu faço com o pinguim? Foi nesse momento que ela doou esse verdadeiro tesouro para a minha colega.

Elas moravam longe uma da outra e minha colega pediu para o namorado ir com ela. E lá foram os dois de moto buscar o pinguim. Ele coube direitinho na mochila e minha colega o levou para casa. Ela me disse que parecia ter um cubo de gelo imenso nas costas. Passou um frio danado até chegar em casa...

Fora isso, o translado do pinguim foi tranquilo. Agora vem uma parte difícil: a foto. Como ela estava sem filme na máquina e tinha medo que o pinguim começasse a descongelar, resolveu levar o bichinho a um fotógrafo que morava perto da casa dela. Eu particularmente achei esse um ato de extrema coragem... Chegando lá com a mochila (gelada) nas costas ela falou:

- Oi, eu preciso de uma foto.

- Pois não. A foto é de corpo inteiro?

- É de corpo inteiro mas não é minha.

- Ah, você quer combinar a foto de outra pessoa?

- Ah, não exatamente... Eu preciso tirar a foto de um pinguim.

- Um pinguim? Mas onde ele está?

- Aqui na minha mochila...

- Na mochila? Mas...

- É que ele está morto...

Antes que o fotógrafo corresse com ela, minha colega explicou o motivo da foto e a história do pinguim.

Sensibilizado o fotógrafo tirou a foto, inédita para ele...

Foto pronta, agora era mãos ao trabalho.

A parte mais difícil foi extrair os ossos, pois o pinguim, assim como a gaivota, cheira mal demais...

Mas pelo menos ele não estava com nenhum osso quebrado.

Lembro que nos encontramos por várias tardes de sábado e fomos, aos poucos, limpando os ossos e fervendo os mesmos em uma mistura de água com água oxigenada para branqueá-los.

Aos poucos nosso trabalho foi tomando forma. Conseguimos separar todos os ossos e os colocamos um uma caixa com fundo de isopor, forrado com papel veludo preto. No isopor havíamos feito um compartimento para cada conjunto de ossos: pernas, pés, assas, cabeça,...

Pesquisamos os nomes dos ossos. Por fim um colega de trabalho desenhou o esqueleto para nós. O trabalhou ficou muito legal.

Nas aulas, cada grupo falava das dificuldades que haviam tido. Um dos grupos, que estava fazendo um gambá, não tinha foto. Então eu doei minhas fotos de gambá para eles. Várias posses, podiam até escolher. Ah, como eles ficaram felizes...

Dia da entrega, comoção geral. Os trabalhos: gambá, pinguim, peixe, galinha... Galinha?


- Galinha não pode, pois não é um animal silvestre - disse o professor.

Então o grupo, desesperado, insistiu:

- Mas professor, não conseguimos outro bicho... O senhor não sabe como é difícil...

Ah, eu sabia. Fiquei com pena deles...

O professor acabou aceitando o trabalho, porém avisou que por não ser um bicho silvestre, o critério de nota seria diferente. Eles não ganhariam a nota máxima, por melhor que estivesse o trabalho.

Eles ficaram felizes mesmo assim. O trabalho estava entregue, podiam dormir tranquilos...

Quanto a nós, tiramos a nota máxima, passamos na disciplina e eu não esqueçi do pinguim até hoje...

Os anos passaram... Não me formei em Ciências Biológicas. Curioso não? Fiz Tecnologia em Processamento de Dados e trabalho com computadores. Coisas da vida...

Porém tenho a foto do pinguim guardada até hoje e toda a história na lembrança...

Contei para algumas pessoas e, com o tempo, foi surgindo a vontade de transportá-la da minha lembrança para o papel... Afinal, não se passa por uma coisa dessas todos os dias...

E assim surgiu "O Gambá, a Gaivota e o Pinguim". 


Obrigada aos que leram!

Andréa